quarta-feira, 24 de novembro de 2010

hoje a saudade embrulhou a cama. tomei um banho demorado, desses que estão pouco se lixando pra preservação do planeta. perfumei-me com as gotas que guardei do seu cheiro. quazar. quazar. quase azar. o banheiro se encheu de você e gritou paredes umidas. o cabelo insistia em não secar. sai agua. dirigi a rebeldia do vento dos dias frios e das janelas abertas. fiz curva com a boca de sorrir. e te amei de quatro rodas.
ele encontra ela:
- cara metade?
- quem quer ser meia pessoa?

domingo, 2 de maio de 2010

Sobre os frangos.

O frango inteiro do almoço de domingo. Impessoal,da méta-cabeça aos méta-pés. Meu irmao pedia o peito, seco e nobre. Eu sempre quis asas e coxas. E hoje, fora dos encontros alimenticios familiares, elocubro metaforas a respeito da escolha das minhas partes. O pequeno frango e a pequena familia, despedaçados e de carcaça exposta no pos-almoço dominical. E os pedaços de carne ainda restantes,- asas e coxas destroçadas, gordurosas, coloridas, advindas da obscuridade da colagem com o osso – dentro da minha boca. Minha mãe dizia algo doce: quem quer sobremesa?

quinta-feira, 29 de abril de 2010

Sono acordado.

Apesar de colecionar cansaços, roubaram-lhe seu sono unico. Agora quem passa, a ve assim, palitos imaginarios de muletas para os olhos.

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Palmas dos pés.

Brincou de cabra-cega em picadeiro: Microfone para apresentador. Abraço para macacos. Alvo para atirador de facas. Mulher para anões. Ponte e rede para trapezistas. Chicote para domadores. Boneca para caixa. Cabelos para suspensão. Ceroula para palhaço. Elástico para corpo. Adestramento para poodle branco. Terminou fragmentada pelo mágico serrador. Palmas para espetáculo.

domingo, 18 de abril de 2010

A mulher maquina.

Desejou por alguns momentos que a força da palavra enlouquecesse roçando o vidro da tela LSD até explodir. Desejou também que em viagens pretas e brancas as letras saíssem voando como jato forte a parar apenas sobre aquele, que estava de frente à tela maldita, para que ficasse atordoado e sem respiração. Tamanha insustentável inconcretude de tudo aquilo, criado a dedos e imagens, que a bigorna (esse ser concreto, preto e inanimado) despencou de algum andar de prédio alto como em quadrinho tragico-comico. No fim da pancada, apenas a personagem decomposta rasgada em sorriso tonto e desdentado. Naquele pequeno instante (que mal se sabe quantas rodadas de relógio durou) se desvelou o que existia de palpável: a mulher maquina. Conectou-se ao seu pulmão USB. Voltou a respirar. Aceitou sua condição de pixels como se fosse atitude nobre e altruísta. Ouviu musica eletrônica - a contragosto do coração mas em correspondência a matéria de sua natureza - e dançou.